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Ajude um júnior – ou lembre-se de quando você começou

Publicado em 28 de agosto de 2020
Autor: Mateus Ávila Isidoro

Quem na TI já ouviu a frase: Joga no Google. A Barsa digital do século XX traz respostas incríveis a todos os problemas de qualquer ferramenta que usamos, inclusive de soluções que mal saíram do berço.

Um desenvolvedor júnior sabe disto. Está acostumado a isto, pois a nossa psiquê foi moldada para buscar no Google. Sou mais velho, ainda peguei um restinho do tempo de ir numa biblioteca e pegar as informações que eu queria numa Barsa. Claro que um adolescente não iria estudar Astronomia ou Matemática – tinha uma sessão na Barsa que falava dos campeonatos de futebol e eu queria saber as escalações – algo corriqueiro pra minha filha mais velha, mas um luxo inestimável para mim na mesma idade dela.

O desenvolvedor Júnior está aprendendo a fazer as perguntas certas, a enxergar formas diferentes de resolver problemas. Este processo é social, pois compartilhamos nossas experiências online, e o aprendizado é coletivo. Não é algo novo, o Lev Vygotsky, pesquisador russo da Psicologia Cultural-Histórica, comentava que as crianças aprendiam socialmente, a partir das interações sociais. A teoria do Zona de Desenvolvimento Proximal – “e define a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda e o Nível de desenvolvimento potencial determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro (uma criança mais velha)” (Wikipedia – artigo https://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_de_desenvolvimento_proximal) – ajuda a tentar explicar esta questão. O desenvolvedor vai se tornando mais especializado em lidar com problemas na medida que você aprender a resolver… problemas.

Este processo não vem do berço, vem das relações com o meio. Nenhum desenvolvedor nasceu com todos os conhecimentos inatos – houve sim um processo que ele teve a ajuda de alguém, mais experiente ou que escreveu algum livro. Todo o processo de consolidação da linguagem não foi feito ao tomar o leite materno – e nem linguagem funcional é entendida em uma semana de video-aula. Há uma maturação deste conhecimento, que é lenta, gradual e que é feita com ajuda. Demoramos muito tempo para aprender “rápido” (com enormes ressalvas a esta compreensão).

Como o processo de aprendizagem se dá socialmente, o desenvolvedor que ensina os colegas a “pesquisarem no google” comete uma contradição insolúvel: ele aprendeu com ajuda, de tudo o que a sociedade produziu, mas não quer retribuir o favor? Por que o ressentimento?

Invariavelmente, vivemos uma sociedade que potencializa a ansiedade como arma para vender mais. Estamos cansados, desgastados, sempre em busca de um fim que não se realiza, de uma felicidade que não se perpetua. Comprei um PS4 novo – mas aquele boost de alegria some pouco tempo depois. Um carro novo – e vem as taxas. Filhos? Dão alegria, mas dão trabalho. Falando de mim, que sou classe média. Para pessoas mais pobres, tem desafios mais injustos do que eu atravesso hoje. E os desenvolvedores que vem de origem mais humilde são os que mais compartilham – como se fosse em retribuição.

Não atrapalhe – já ajuda um monte

Quando ver um júnior perguntando algo que tu julga trivial, não perca seu tempo respondendo ele. Imagino que para algumas coisas da vida, você é júnior também. E você precisa de ajuda – e isto é que enriquece as experiências humanas.

Quer uma boa leitura de como as relações humanas são saudáveis? Veja este artigo (https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-38075589) que comenta sobre o estudo mais longo acerca da felicidade. Em resumo (pois não li o estudo, apenas dando uma de papagaio), o que nos deixa feliz é a qualidade dos nossos relacionamentos.

Será que não é você que precisa de ajuda?

Antes de tudo: se você chegou aqui sem querer ficar me ofendendo, talvez você concordou com o teor do texto, de dar uma ajuda naquele júnior do slack que pede toda hora ajuda em coisas triviais para ti. Se tu tá no teu limite, creio que seja uma boa hora de buscar ajuda. O vídeo da Cecília Dassi (aquela mesmo, que foi atriz da Globo), pode ser um bom caminho para te ajudar.

Creditos: Cecília Dassi

Estou fazendo terapia, tá me ajudando a lidar com meus problemas. To no início ainda, mas feliz com o resultado. Espero que isto te ajude.

(UPDATES)

Reli a thread oficial, e achei o posicionamento da criadora da thread bem ruim. Tenho admiração pelos vídeos dela, e imagino que ela tenha as mesmas dificuldades que eu e você leitor temos em nosso dia-a-dia. Eu não sou a favor da cultura do cancelamento, pois ela afasta as pessoas de evoluirem, ao serem confrontadas com posicionamentos diferentes do seu. Mantenho a admiração e o respeito, e o foco é que nós tenhamos uma comunidade menos tóxica e mais equilibrada.

Inclusive reforço que mesmo o mais sábio de todos nós desenvolvedores tem suas abas com consultas para o stack overflow. Não é vergonha buscar a informação, mas o Júnior ainda não tem as malandragens para fazer as “perguntas certas” para resolver o seu problema. Creio que empatia ajudaria todos a evoluírem como comunidade.